sábado, 16 de janeiro de 2010

Lasanha sabor surpresa

- Policial João Miguel.
Fui apresentada ao senhor a quem precisava convencer minha inocência. Ele tinha o mesmo nome do meu pai, espero que o instinto paternal tome conta do coração deste homem ao escutar minha versão sobre o desfecho do festival, ou pelo menos parte do que eu lembro.
Cheguei na delegacia por volta das quatro e meia da manhã. Três horas depois, assinei uma pilha de papéis, contei a história da louca no banheiro no mínimo umas seis vezes, fiz retrato falado, jurei não participar de nenhuma gangue ou quadrilha de trâfico internacional e fui liberada, mas tudo com esforço e participação ativa do meu advogado: meu irmão mais velho.
Caio tem 35 anos, se formou há mais de seis, é muito competente, não digo isso por ser meu irmão, mas tem grande reconhecimento nos tribunais.
Tenho sorte, nada como um irmão advogado para me salvar nessas ocasiões, que não sou poucas, já perdi a conta do meu caderninho de dívidas com ele. É casado, porém, ainda não me deu subrinhos.
Na infância brigamos como cão e gato, ele é ciúmento, pegava no pé dos meus namoradinhos de colégio, mas a verdade é que ele sempre cuidou de mim. Gosto muito do meu irmão e lamento tirá-lo da cama em tantas madrugadas para me buscar em delegacias por acontecimentos praticamente inacreditáveis.
-Mana, tá na hora de criar juízo.
-Caio, juro, apenas fiquei com pena da doida. Poxa, eu havia perdido meus documentos minutos antes.
-Eu sei Sam, mas tu deveria ter olhado tudo que havia no saquinho antes de por no bolso.
-Ok, ok. Sei que foi descuido meu.
-Não, isso foi álcool. Tu é esperta e tem bom coração, só precisa ser mais ligada, e pensar que algo estranho sempre pode acontecer. Falando nisso, por que está usando sacolas no pés?
-Vamos, te conto no caminho, me leva para casa, por favor.

A essa altura da manhã não fazia idéia de onde Bibi e Carol estavam. No início fiquei preocupada, mas o alivio veio logo depois quando lembrei da companhia do Alfredo. O regueiro era uma boa pessoa, cuidaria delas melhor que eu no estado em que me encontrava quando saí do clube.
Ocupei meu vacuo mental com longos minutos de reflexão, tamanho foi o azar e sorte que me acompanhou na noite anterior.
Fiz jogo duro para ir ao festival, quebrei o salto e conheci um cara incrível.
Toc-toc, o foco da noite bate em minha cabeça, como a mão do zelador bate a porta do meu apartamento nas manhãs em que chego semi embreagada e estaciono ocupando duas vagas; ele realmente bate com força na porta. Esta batida me faz pensar que Diogo é extremamente lindo, envolvente e famoso. Oque ele iria querer comigo de pés ensacados?!
Melhor esquecer tudo isso, principalmente a lembrança do hálito de menta... Chega! Vou ligar para a Bibi, e segunda quando chegar no escritório vou encaminhar a correndo da Santa não para 39 e sim 70 pessoas.
-Alô? - uma voz de travesti destaque na escola de samba unidos do orgulho glitter.
-Bibi?
-Não, Vera Verão.
-Sabia! Onde está minha amiga? Pago o resgate em bebidas, pretendo me livrar de todas que ainda habitam minha casa.
-Hehehe. Sam oque aconteceu? Fiquei preocupada. Por que não atendeu o celular quando liguei? Que horas são agora?
-Duas horas da tarde. Cheguei em casa pouco depois das sete, fui sem escalas para a delegacia depois do festival.
-Não me diga que foi acusada de pedofilía denovo?
-Não, foi LSD.
-LSD? De onde tu tirou isso?
-É uma longa história. Conheci uma mulher no banheiro, guardei os documentos dela e com eles haviam uns oito comprimidos. Eu não sabia! Me perdi quando fui atrás da Carol depois da latada, levei uma cotovelada no olho e apaguei.
-Meu Deus!
-Na ambulância foram me identificar, de fato eu parecia mais uma fugitiva do São Pedro. Devo comentar oque usava nos pés?
-Hahaha, continua Sam.
-Hm. Então, decadencia total. Uma policial mal resolvida não foi com a minha cara, armou um tumulto e me levou do clube presa.
-Não posso acreditar.
-Até provar que me chamava Samanta Filomena Silva Heen e não Carla Motta, já haviam passado duas longas horas, e o Caio já estavade prontidão na delegacia.
-Mas e agora, onde tu está?
-Em casa. Dormi logo que cheguei. Acordei a pouco com fome e dor de cabeça... E tu onde está?
-Em casa também, dormindo até agora.
-E a Carol? - Fiquei com medo de uma resposta negativa.
-Bom, localizei a Carol inconciênte na UTI móvel umas duas horas depois que te contei da latada.
-A latada! É mesmo, coitadinha. - Não mais coitada que eu, claro.
-Tu não estava mais lá, nem o médico que te atendeu e viu toda situação. Falei com a enfermeira, ele não soube me explicar muito bem toda a bagunça. Tirei a Carol de lá e a trouxe para minha casa.
-Ela ainda está aí?
-Sim. Na mesma posição desde que larguei.
-Vou passar na farmácia, comprar analgésicos e vou ai, tudo bem?
-Claro meu amor, vou colocar pizzas congeladas no forno. depois saimos para uma caminhada no fim da tarde.
-Ótimo, preciso mesmo de ar puro.
-Te espero. Beijo.
-Beijo.
Liguei para minha mãe e combinei de jantar na casa dos meus pais a noite, meu lado familía aflorou após quase passar dessa para melhor pelo cotovelo de um punkezinho de 16 anos.

o sol rachava na tarde de sábado e eu não pensava em outra coisa que não fosse a noite anterior. Queria ter filmado a Carol e suas formigas imaginária, daria um bom vídeo para o youtube.
Na casa da Bibi rimos muito. Ela me contou com um sorriso branco o quão feliz estava em ter conhecido o Alfredo. Eu também estava feliz, quero o melhor pra minha amiga sempre.
No fim da tarde de fadíga atirada no maravilhoso sofá do apartamento da Bibi, ajudei com alguns preparativos para a inauguração da estética, que será na quinta feira desta semana. Carol, recuperada como um vaso entupido após uma dise de soda caustica e água fervendo, organizou os contatos para mais uma noite movimentada; ela vai a um sertanejo universitário, coisa que passo longe, sertanejo não faz nada minha cabeça.
Saímos para a caminhada no parque e dali fui até a casa dos meus pais, fica a três quadras de onde a Bibi mora.
Quando voltasse para casa, Bibi iria comigo para encarar o almocinho de trabalho amanhã.
-Preciso mesmo ir? - ela falou com cara de cachorro vira lata pedindo misericórdia ao cara da carrocinha, que neste caso sou eu.
-Vai me abandonar agora? - fiz uma cara ainda mais dramática que a dela.
-Assim não posso dar para trás. Ok, eu vou. Mas levo um machadinho na bolsa, caso o Chuck me tire do sério.
-Apoiadíssimo! Hehehe.
Dei um beijo nela e segui na calçada do parque a caminho da casa dos meus pais.

-Pererequinha da mamãe! - Foi com essa frase super convidativa que sou recebida por dona Clara.
-Oi mãe. - Falei com um sorriso torto de odeio-que-me-chame-assim.
Caio meu irmão de 9 anos veio correndo para me dar um abraço forte.
-Sam, quando vamos acampar denovo?!
-Caio, já lhe disse. Depois do que aconteceu da última vez você não vai mais para o mato com a Samanta. - ela parece falar realmente sério.
-Calma maninho, no proximo feriado de sol nós vamos. Escondido da mãe! - cochichei em seu ouvido essa ultima frase e ganhei um beijo estalado no rosto.
Na cozinha meu pai usava um avental escrito 'paizão' que dei fazem alguns anos. O jantar é lasanha a quatro queijos, por conta dele, que cozinha que minha mãe, é sempre quem toma a frente das panelas em ocasiões especiais.
-Oi pai! Que elegancia neste avental. Hehehe.
-Sempre capricho para visitas importantes.
-Quanta honra Sr. Heen.
Ganhei um beijo rápido, ele estava com a forma na mão e cheio de vestigios de queijo grudados no corpo.
-Encontrei Pablo esta semana. - Ele gritou abaixado em frente ao forno.
-Pablo? - Perguntei espantada.
-Sim! Ele esta na cidade...
-Na cidade? - Como ainda posso parecer mais espantada?
Um misto de sentimentos tomou conta de mim, só de ouvir o nome dele já sentia gosto de Kit Kat na boca. Não tinha noticias desde que terminamos, mas é como se algo estivesse pela metade.
-Por que essa boca aberta Sam?
-É fome pai! O cheiro está ótimo. Mas oque ele faz aqui? e os Estados Unidos?
-A empresa o mandou, por ser um dos poucos brasileiros faria melhor as negociações por aqui. Acredito que vá ficar algumas semanas.
-Hmmmm.
-Ele não perguntou de ti. - Falou rápido antes que eu tentasse disfarçar mudando de assunto.
-Eu não perguntei se ele perguntou. - Cuspi a frase como se pouco me importasse.
-Eu conheço essa cara, tu queria saber.
-Não queria não.
-Mas convidei ele para jantar.
-Jantar?
Exatamente como se eu estivesse dentro de uma comédia romantica, a campainha toca. Não esperei meio segundo, sai feito uma bala de prata a caminho do banheiro.
Como iria rever meu ex com o rosto naquele estado? Meu olho tinha um contorno roxo e estava vermelho e inxado. Maldito adolecente da roda punk!
Não sabia oque fazer, era desespero total. meu pai podia ter avisado antes, fui pega extremamente de surpresa. Arrumei meus cabelos e sai do banheiro como se um xixi a jato estivesse me obrigado a sair em desparada.
Chego na cozinha e me deparo com o amigo do meu irmão rodiando as panelas com ele.
-Esse é Junior, colega do Caio na escola, vai dormir aqui esta noite. - Explicou minha mãe.
-Foi ele que chegou? - Perguntei em um misto de decepção e salvação.
-Foi sim, a mãe dele acabou de deixa-lo aqui.
-Sam, não se desespere, eu não faria isso com você. - Meu pai sussurou em meu ouvido com uma voz tão doce quanto quindim.
-Isso o que José? falei brincando em tom sério.
-Acha que nao vi a maneira que bateu em disparada quando a campainha tocou?
-Disparada? Meu estomago deu um sinal, não pude esperar.
-Hahaha. Com quem tu aprendeu a ser cara de pau assim?
-Comigo não foi. - gritou minha mãe da sala de jantar.
-De fato convidei o Pablo para jantar, mas não hoje. Até porque tu nos avisou hoje a tarde que viria, e eu havia comentado com ele na terça feira. Fica tranquila minha linda, vou te avisar o dia.
Não podia dizer nada. Meus pais me conheciam mais que eu a loja de sapatos do shopping, ficava simplismente sem argumentos.
Durante o jantar rimos muito, expliquei a razão do meu olho roxo e os acontecimentos da noite anterior, apenas amenizei a quantidade de tequila consumida durante a história, não quero que meus pais me mandem para o AAA.
Ficou tarde, liguei para Bibi me buscar com meu carro, já estava perigoso caminhar até a casa dela.
Me despedi dos meus pais e do Caio, foi uma noite muito agradável. infelimente meu sorriso de satisfação familíar acabou ao lembrar a missão que tinha no domingo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Festival

Calça jeans, regata justa preta, sandalia de salto alto, cabelo escovado, maquiagem de noite. Essa sou eu no sofá aguardando Bibi e a Carol passarem para me pegar.
Resovi esperar no hall do prédio, afinal, Backhan pode estar apertando todos os botoes do interfone a minha procura; já que justo o do meu apartamento está estragado. Ou até quem sabe meu vizinho gato e bom samaritano do 703, esteja exercendo seu papel de 'carteiro solitário da noite de sexta feira' e precise de uma ajudinha nessa tarefa ardua.
Quinze minutos de espera e o carro para em frente a saída do prédio.
Quase intoxiquei ao entrar.
-Vocês não tomaram banho e querem disfarçar com um vidro todo de perfume?
-Também estava com saudade filózinha - deboxou Carol.
-Bem eu que lavo só a franja hein Samanta... - Comentou Bibi segurando o riso.
-Bibiana nem vem, tu, praticamente a femea "mór" da química capilar foi quem me ensinou o truque do talco pra disfarçar a oleosidade hahahaha.
-Hahaha. Sério, eu estava mesmo com saudade de vocês. - o rosto da Carol se iluminou olhando para mim no banco de trás.
Todas nos comprimentamos com carinho e seguimos para o local do festival ouvindo Kings Of Leon a todo volume.

O contato 'paz e amor' da Bibi nos colocou para dentro do camarim em dois toques.
Quando finalmente prestei atenção nela, notei que estava vestida diferente do convencional, me lembrava uma hippie. Usava estampas que eu desconhecia em seu guarda roupa e nos pés rasteirinha.
-Bi, por que tu está sem salto? -falei baixinho em seu ouvindo.
-Calma amiga, tu já vai entender.
Em poucos segundos surgiu um rapaz descolado, cabelos dourados crespos e olhos cor de mel. Fui então apresentada ao regueiro do site de relacionametos: Alfredo. Era voz e violão da banda Native Roots, e poucos centimetros mais alto que a Bibi sem salto. Ela, por sua vez foi muito precisa, no momento de euforía para conhecer alguém acho que não teria lembrado a altura que o sugeito me falou semanas antes.
Carol usava saia jeans pouco mais de um palmo acima do joelho, tamanco nude e camisete no mesmo tom.
Caroline Vargas é vizinha da minha Avó, a Filomena oficial. Nós duas nos conhecemos quando eu tinha 8 anos, a avó da Carol é amissisíma da minha, sempre quiseram que as netas se dessem bem, para futuramente fazer bingos e tomar chá das cinco, como ambas fazem hoje. Carol acabou de fazer 21 anos, é mais nova e mais louca que eu. Por consequência da minha amizade unha e carne com a Bibi, crescemos as três unidas e criamos um laço firme e confiável.

A química da natureza fluíu bem entre o casal vinte: Bibiana e Alfredo. Completando as primeiras horas da noite com muita conversa e troca de interesses, os dois realmente eram muito fofos juntos; oque me tranquilizava ao lembrar da minha inscrição no mesmo site.
A concentração nos camarins era intensa. Artistas, fotografos, fãs eufóricos e muito, muito trago preenchiam os metros quadrados que nos cercavam. Nos chamou atenção principalmente uma garafa lustrosa, redonda e convidativa, onde dizia: José Cuervo Gold. Apenas um olhar para Carol já bastou, uma mão na tequila, outra no limão e sal e lá se foi os exemplos das vovós.
Uma dose aqui, outra alí, e na volta do banheiro resolvi me aventurar pelas redondezas do mundo da música. Notei o camarim de uma banda de rock, animado, cheio de fotógrafos, uma movimentação intensa de pessoas com pulseirinhas coloridas, e a presença dos demais artistas que paravam constantemente por alí.
Meu momento: espiã-nada-discreta-com-cara-de-louca-da-colônia, foi lamentávelmente interrompido ao pisar em um espaço falso no piso dos corredores, o carpete azul marinho tornou-se a vista mais proxima dos meus olhos.
- ! merda! - gritei realmente putamerdiando.
-Sempre fui contra estes carpetes. Hehehe.
Nossa! que voz é essa? Grossa, rouca e incrivelmente sedutora.
Olho pra cima, e lá está o dono da voz. Munido de um sorriso simpático cheio de caridade á uma podre coitada esparramada no chão. - onde se encontra seguranças em uma hora como esta?
Falei baixinho, ainda sem graça:
-Tem um buraco bem aqui.
-Prazer, sou Diogo.
-Sam - não tinha forças para elaborar uma boa apresentação em um momento tão sem graça. Feliz estaria em apenas apertar a setinha no teclado e passar uns slides bem elaborados no power point, tentando substituir a primeira impressão de bebada desgovernada.
-Bem Sam, se precisar de uma forcinha para levantar em uma proxíma, estou aqui no camarim da Neural, hehehe.
Forcinha? O pobre homem se saiu praticamente um caminhão muck ao juntar meu peso morto do chão. Agora diz que é da banda que mais me indentifiquei em todo festival, e com essa voz... socorro!
-Hehehehe. Obrigada Diogo, espero que não haja um proxíma.
-Hehe. De qualquer forma, fica o aviso.
-Obrigada.
Ele piscou e se virou em direção ao camarim, onde todos o receberam brindando os copos de chopp.
Como se toda situação não fosse suficiente para queda total da minha pobre auto confiança, olho para baixo: meu salto estava quebrado.
-Não posso acreditar! - Fui resmungando baixinho e andando no estilo ta-razo-ta-fundo-ta-razo-ta-fundo até o camarim 'legalize' em que minhas amigas estavam.
-Amiga foste atropelada? - Bibi bebeu piña colada neste meio tempo, seus olhos estavam como faróis baixos de caminhão.
-Bi, tu acredita em correntes de internet?
-Sam, isso tudo é tequila? Que papo é esse de corrente? Ainda mais agora.
-Não encaminhei uma dessas hoje pela manhã, já socializei com o chão duas vezes hoje, o ultimo tombo resultou nisso...
Tirei a sandalia e levantei com a mão direita, finalizando a cena com uma cara de pamonha mofada de beira de estrada.
-Jesussssss! Espera, tive uma idéia.
Enquanto Bibi some do meu campo de visão já deficiente do álcool, noto a Carol: no início acreditei que estava dançando reggae, até me dar conta dos efeitos que a tequila plantou em minha pobre amiga. Os pés que ela levantava do chão, era sua arma mais eficaz para esmargar formigas (imaginarias!), que segundo a Carol, tinham como meta de vida dominar as caixas de som do festival e passar sua mensagem para o mundo.
Minha atenção para Carol Vargas a superdetetizadoracomarmanospés, é desviada para Bibi que surge com sacolas plásticas nas mãos.
-Vai catar latinhas? Perguntei brincando, porém um pouco assustada.
-Para teus pés.
-Que?
-Para ensacar teus pés Sam.
-Ficou maluca? Vou permanecer sentada o restante da noite, se precisar ir ao banheiro vou descalça. - Falei com voz firme, preciso me impor a uma situação como esta.
-Negativo! Nada de bixo de pé.
-Bixo de pé? Não ouço falar nisso desde os meus nove anos!
-Tu não soube? Uma massa revoltada de bixos de pé tomou conta da cidade. Olha a Carol, fugindo deles até de tamanco.
O reggae da facção das formigas imaginarias da Carol começou a fazer a cabeça da galera, logo alguns indivíduos mais pra lá do que pra cá, juntaram-se para uma coreografia pouco sincronizada.
Me recusei a usar as sacolas, isso era obvio.

-Um, dois, três e já! - soava como música a contagem regressiva para virar o martelínho.
Sentadinha mesmo, perdi as contas de quantos 'já' participei, não só as contas, perdi o juízo e logo estava correndo alucinada com sacolas nos pés. Jesustomaconta.
Assistimos os shows de um lugar privilegiado, ao lado do palco. A Native Roots agitava a galera e a Bibi, certamente era a fã mais orgulhosa. Ela e Alfredo finalmente se beijaram pouco antes da banda se apresentar, beijo que alimentou o par de olhos brilhosos com que ela olhava para ele durante as músicas.
O show da Neural foi ótimo, músicas romanticas, batida de rock e o 'Di' - apelidinho particular que adotei. Era o vocalista mais envolvente que já vi, não era pra menos, com aquela voz. Conhecia algumas músicas, toca muito na rádio que escuto a caminho do escritório, mas minha falta de tempo não permite prestar atenção e relacionar a cara dos cantores com suas respectivas bandas.
Depois dos shows que nos interessavam, voltamos á animação particular do camarim.
Tudo correndo bem, inclusive, meus novos sapatos ecologicos (nada como reaproveitar sacolas plásticas), quando ouço:
- ... Filomena?
Meu coma tequileiro da espaço para o pânico. Pensei seriamente em enfiar o corpo todo na sacola que carregava no pé, afinal, não seria mais feio que um engraçadinho gritando meu segundo nome em pleno camarim.
Olhei pra trás como se não fosse comigo, não reconheci ninguém.
A voz repete a frase, não me dei conta do que havia sido dito antes de Filomena até então, meus pobres tímpanos debilidatos pelos shows captam nítidamente:
-Tem alguma Samanta Filomena?
É um pergunta? Não me conhecem, ainda da tempo de fugir! Passei a mão no bolso trazeiro da calça: nada, faltava meu emaranhado de documentos, inclusive minha carteirinha.
O festival foi no clube que sou sócia, a carteirinha (graças a Deus nao possui foto) me permite desfrutar de um convidativo desconto no estacionamento da sede.
Apavorada olhei para Bibi:
-Perdi meus documentos!
Ela riu, afinal, isso sempre acontece.
Meus novos sapatos falavam por si só, diante disso, fui caminhando o mais discretamente possível na direção do rapaz que portava minha humilde carteirinha.
Estava disposta ao suborno com tequila para que ele parasse de berrar, e nao revelasse a ninguém que a anônima sócia do clube não era nada mais nada menos que: a louca com os pés ensacados.
Quando estava a uns cinco metros do indivíduo, Diogo se aproximou dele, trocou algumas palavras e guardou a carteirinha no bolço. Dei meia volta, como se estivesse dando uma alongada atlética com meus novos tênis de plástico; tomei novamente meu lugar, convencida de que o melhor é pagar o valor total do estacionamento e soliciatar uma nova carteirinha ao me apresentar como Filózinha.
Em uma ida ao banheiro, fiz amizade com uma doida que estava por lá. Me contou que era desastrada e sempre perdia seus documentos, me intentifiquei com ela, mas não comentei meu caso. Ela pediu para que guardasse um saquinho com seus documentos, por pouco mais de uma hora, ela estava indo assitir um show no meio do povão, onde era propícia a perda total dos mesmos. Decidi fazer minha boa ação e guardei cautelosamente os documentos alheios.
Entre formigas maquiavélicas e demais acontecimentos sobrenaturais cruzava com minhas amigas pelos camarins, estes me pareciam a cada hora mais movimentados.
-Iai tudo ''firme''? Hehehe. - Aquela voz entrou como a posse do Presidente Obama nos meus ouvidos: loucura total.
-Diiiiii...ogo! Firme! Com o prego na polenta!
-Hahahaha. Melhor ficar por perto então, não quero ver outra parte do corpo envolvida por sacolas plásticas, ou até gesso.
E foi assim que começamos realmente a conversar. Ele era engraçado, bonito, talentoso, inteligente e... vocalista. Tudo que uma mulher pode querer, e tudo que uma mulher não quer: outras tantas correndo atrás, com muita razão, não posso negar.
Diogo me contou sobre a banda, como tudo começou, sobre sua paixão por música e de onde vinha tamanha inspiração para compor as letras.
Falei do meu trabalho, familía, sobre falta de sorte (fazendo juz ao tombo) e outras tantas coisas nada casuais. Menos é claro, meu nome completo. Me fiz de louca sabendo que ele estava com a carterinha, achei que a Santa da maldita corrente poderia estar ao meu lado agora, fazendo brotar outra Samanta naquele camarim, a quem ele achaditasse pertencer realmente a carteirinha.
Estavamos a apenas dez centimentos, podia sentir sua respiração e o maravilhoso hálito de menta e...
-SAAAAAAAAAAAAAAAAM!
-Bibi? que susto!
Susto? Minha vontade era dar um reto na fonte dela, quando perdesse a conciência fugia com Diogo em um cavalo branco pelas colinas verdes.
-Corre, a Carol resolveu dar um volta no meio da galera, tomou uma latada na cabeça!
-Latada na cabeça? - Esqueci meu sonho de ensino fundamental e voltei para a terra.
-Sim! Ela não fala nada com nada e grita 'pererequinha' sem parar.
Como se não soubesse de onde vinha a alucinação da Carol, sai correndo deixando meu homem dos lábios de menta para trás.
Meu nível álcoolico era altíssimo, em um minuto de insanidade mental me perdi da Bibi, quando me dei por conta estava longe dos camarins e no meio de um Ciclone Extra Tropical: uma roda punk. Não deu outra, cotovelada no olho e tudo ficou preto.

Acordei na UTI móvel que estava estacionada na área externa do clube, ao meu lado, Carol recebia glicose na veia e tinha um exparadrapo enorme na testa.
Vi um rapaz de costas, loiro, vestindo um jaleco branco e falando com uma policial no lado de fora da ambulância. Levantei tonta, e ele virou vindo em minha direção.
Afirmaria que morri na roda punk e finalmente conhecera o céu, ele era um anjo. No entato, sabia que não era possível, segundos antes vi Carol, ela no céu? É ruim hein.
-Como está se sentindo?
-Anotou a placa?
-Placa? - Ele me perguntou sem intender.
-Sim! do ônibus que me atropelou!
-Hehehe. Por sorte foi atropelada por um adolecente de 16 anos.
-Nossa! Isso da cadeia...
Antes que pudesse completar minha frase sobre pedofilía, a policial entra na ambulância e completa:
-Justamente, a senhorita está presa!
-Presa? - não sei descrever minha cara exatamente, mas não é difícil imaginar.
-Sim, Senhorita... - Olhou para os documentos em sua mão. ...Carla Motta.
-Carla Motta?
-Não banque a engraçadinha. Dormiu uma hora e recebeu os devidos cuidados. Já não está bebada a ponto de não saber o próprio nome.
Me revoltei, quem ela acha que é pra falar comigo nesse tom.
-A senhora está comentendo um erro gravissímo.
-Erro gravissímo cometeu a senhorita em trazer drogas para um evento como este.
Drogas?! Foi quando me dei conta. Eu não estava com os meus documentos, os mesmos fugiram do meu bolso no apce da tequila, minha carterinha foi encontrada por um sugeito desconhecido, porém, os demais documentos eu não fazia idéia do paradeiro.
Lembrei da 'amiga' no banheiro, os documentos que estavam no meu bolso eram dela, provavelmente eles retiraram para me indentificar e BINGO!
- Policial Eva (olhei em seu destintivo) eu posso explicar.
-Explique isso na delegacia, vamos!
Meu anjo estava parado semi boquiaberto observando a cena bizarra ali mesmo em ambiente médico, enquanto tentava manter sua consentação na pobre Carol atirada na maca.
-Não sou contrabandista de LSD! - Foi o que tive tempo de falar antes de ser levada para fora, com direito a algemas.
Surpresa! Vi um clarão.
Se não estivesse tão bebada diria que foi um flash.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Prazer, Jenifer.

Sexta feira! Acordei no horário e com isso matei meu exercício para as olimpíadas. Segunda, esse é um ótimo dia para malhar arremesso de roupas para fora do roupeiro morrendo de pressa. No elevador, fiquei na expectativa de um encontro com meu vizinho misterioso do 703, mas nada, cheguei a pensar em sabotar minha própria correspondência, mas vou me sentir uma louca completa se tomar essa atitude.
Pareço desesperada, ou seria? Estou desesperada! Meu ultimo namoro sério foi com Pablo, nos conhecemos na faculdade e namoramos por dois anos. Pablo mudou-se para os Estados Unidos a trabalho, um mês depois optamos por terminar, me acabei nos Kit Kats que a Sara -minha colega da faculdade de administração, trazia da Argentina. Isso já faz quase dois anos, não como mais chocolate desde que superei essa overdose.

No escritório fui olhar meus e-mails. Recebi uma corrente da santa não sei das quantas, terei sete anos de azar se não passar para 39 pessoas, blá blá blá, essas coisas não existem...
Um convite para um site de relacionamentos. Parece tentador, mas com tantos malucos tarados por aí...
-vou me inscrever!
Saí para buscar um café e fui apresentada a Jenifer: loira, alta, olhos castanhos, cerca de 28 anos, uma voz extremamente chata e os dentes mais brancos que esmalte luna na luz negra. Ela acaba de chegar de Minas Gerais, onde exerce o mesmo cargo que eu, vai passar uma temporada no Sul a trabalho.
Posso jurar que os olhos dela faiscaram olhando meu sapato, provavelmente a causa do meu tombo na saída do bar café, oba, cafeína quente faz bem para pele!

Almocei no restaurante do prédio, passei o dia com dor de barriga, mas não consigo efetuar a tarefa ‘numero dois’ fora de casa. Ás 18 horas, antes de sair recebi a intimação do churrasco de boas vindas para nossa nova coleguinha. Será domingo, 11 horas, no sítio dos Kretzer.

Passei no supermercado, comprei umas cervejinhas e fui até o apartamento da Bibi. Lá estava ela, com o som a todo volume dançava parecendo uma zebra com ataque de carrapatos, muito tenso...
-Oi Sam! – ela gritou ofegante, ainda dançando no banheiro.
-O que está acontecendo aqui Bi, tu está se drogando? – realmente me parecia bem possível.
-Hahaha. Já ia te ligar, tenho um bom programa para nós hoje, já estou entrando no clima...
-Ai socooorro! Entrando no clima, assim? Que tipo de programa?
-Um festival amiga! Um festival de música!
-Ah não Bibi! A ultima vez que nos metemos em programas adolescentes deu no que deu... –Fomos parar na 4ª delegacia acusadas de pedofilia, estávamos só perguntando a um rapazinho onde era o banheiro, mas ele estava tão bêbado que acabou caindo sobre nós.
Meu momento remember: só-me-dou-mal-nessas-festinhas foi interrompido pelo sorriso estampado na cara da Bibi.
-Não, mas neste festival nada vai dar errado! Ora Sam, vamos!
-Hmmmm. Essa tua cara... Tem homem não é?
-Hahahaha – ela ficou vermelha. Não me engana!
-Aaaaah me conta! Sua traidora, como conseguiu me esconder até agora?
-Não estava escondendo, apenas não queria precipitar nada...
-Como assim?
-Não ri de mim! Mas me inscrevi em um site de relacionamentos...
Instantaneamente lembrei-me do e-mail que recebi, e que também havia me inscrito. Melhor ficar na minha.
-É cheio de tarados nessas páginas! – Nossa. Como sou puritana.
-Sam, tu está pior que a minha mãe, hehehe. Bom, ele é de uma banda de reggae.
-Reggae? Desde quando tu entende de reggae?
-Sempre é tempo de ampliar nossos gostos musicais.
Como posso negar companhia a minha melhor amiga? Bem, e preciso protegê-la não imagino a intenção de um regueiro com uma doida que entende tudo de química capilar!
-Ok ok Bibi, estou nessa!
-Saaabia que tu não ia me abandonar.
-Vou pra casa me arrumar, me pega lá?
-Sim amiga! Te quero linda!
-Vou tentar, vou tentar... Ah! Tens uma missão também.
-Tudo que você quiser amiga.
-Churrasco domingo, no sitio do Chuck. – Melhor falar logo na lata.
-Ele quer acabar com nosso fim de semana? – Bibi parou de boca aberta na porta.
-Nem me fala, tu vai conhecer a Jenifer.
-Jenifer? Odiei.
-Eu também, principalmente depois do meu tombo, resultado do olho grande dela, tenho certeza.
-Mentira?
-É! Depois te explico melhor, vou pra casa me arrumar, tenho uma tarefa complicada com meu cabelo. Hehehe.
-Certo. A Carol está chegando logo logo, para formar nosso trio ternura.
-Hehehe, adoro! Até mais. – Já saindo pela porta, rumo ao meu carro.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Corrida de São Silvestre

De repente um som, uma espécie de campainha, seria o Backhan batendo na porta com uma cesta de café da manhã e flores?
-Drooooga!
Meu esporte favorito: maratona atrasada pro trabalho de São Silvestre, estou na categoria recuperando-se de um atropelamento, cada vez batendo mais récordes! Que orgulho!
É uma espécie de terapia de pânico diária, dou um tapa no celular que insinte em despertar. Uma perna na calça, a outra no sapato de salto 15cm, xícara de leite de soja em uma mão e a Zero Hora na outra, um beijo na testa da Bibi e sou cuspida porta a fora pelo meu próprio apartamento. Cara de louca e exalando tequila pelos poros do couro cabeludo, me tornei até funcionária do mês na empresa.
Chegando no escritório - que fica cerca de vinte e cinco minutos de carro do meu bairro, percebo silêncio e nenhuma movimentação, Carla minha secretária também não está em seu posto, pensei 'vou ganhar uma festa surpresa', faltam 5 meses pro meu aniversário, mas porque não alegrar a colega de trabalho em plena quinta? Na minha sala, uma rosa vermelha sobre a mesa: minha nossa! David Backhan não chegou a tempo com o café e me mandou uma lembrancinha. No bilhete dizia:
Parabéns pelo atraso Samantha Filomena Silva Heen, sala de reunião imediatamente.
Roberto.

-Puta que ! sabia que devia ter checado meus e-mails antes de deitar, esqueci completamente dessa reunião! Vou mataaaar a Carla!
Roberto é meu chefe, o presidente da empresa, um sarcástico e irônico que adora pegar no meu pé - ele sabe que tenho nauseas só de pensar no meu segundo nome.
(Parenteses da minha vida: Filomena surgiu de uma birra de família. Minha mãe e avó paterna nunca se deram bem, meu pai tenta até hoje manter a harmônia entre as mulheres da sua vida. Na esperança de ludibriar a boa velhinha fazendo acreditar que minha mãe queria homenagia-la , me registrou com o nome dela. A maravilhosa idéia mal sucedida me assombra até hoje, e o Roberto adora.)
Roberto deve ser uns quatro anos mais velho que eu, não é casado, já perdi a conta de quantas loiras peitudas, clientes gold premium do Dr. Hollywood já passaram por aqui. Não vou dizer que é um homem feio, mas minha vontade de tirar sua cabeça e por debaixo da árvore de natal das festas de fim de ano da empresa, não me deixam pensar em outra coisa. Além de tudo, me tira pra encalhada, pode? Só por que sempre levo a Bibi nos eventos do escritorio. Me manda flores com recados de atraso para me provocar e rir com o pessoal do xerox. Ainda vou receber flores do Beckhan no trabalho e dar nos dedos dele.
Começo minha segunda etapa de preparação para as Olimpiadas do Rio em 2014, correndo pra sala de reunão.
-Bom dia Samanta - disseram todos meus colegas na sala.
-Bom dia a todos, desculpe o atraso, o trânsito está cada vez pior.
Minha cara de 'fui numa festa muito louca noite passada' entregava minha desculpa, com um sorrizinho simpático sentei no meu lugar.
#
-Alô?
-Oi gata! - é a Bibi, provavelmente com álcool ainda fervilhando na cabeça.
-Como tu acordou?
-Nossa que noite foi aquela? Porque a bunda das minhas calças tá preta?
-Hahahaha. Bem, o chão tava resvalando amiga!
-Hahahaha. Conseguiu chegar a tempo?
-Me atrasei pra reunião, o 'chuck boneco assasino' não perdeu de dar o ar da graça.
-Ainda mato esse cara com um alicate de cutícula!
-Hehehe. Vou adorar! Falando nisso, fiz tuas encomendas pro salão, ficou pra quando o coquetel de inauguração?
-Semana que vem, vai bombar amiga, frexenet liberada, loucura total!
-Espero que o piso do salão tenha antederrapante...
-Hahaha. É só tu não vir de roller!
-Para! Hahaha. Quem me puxou pro chão foi tu! Loca!
-Não senhora! Mas enfim, que horas tu vem? Pensei em pegar um cineminha...
-Hmmm. Vamos sim! As 18 horas vou sair daqui, confere a programação e me manda uma msg.
-Tá bom, jantamos no shopping?
-Sim!
-Chopp depois?
-Hahahaha. Tu vai acabar com a minha carreira promissora!
-Hahaha. Te amo amiga, beijos.
-Eu também, beijos.
Bibiana de Lima Coral... se fosse contar tudo que passamos juntas desde a quarta série poderia escrever um livro - não seria má idéia, foram tantas enrrascadas, várias indiadas e muito, muito trago. A gente se completa, no que me atucano a Bibi tira de letra. É linda, e muito talentosa na área estética, acredito que agora ela tenha acertado o tiro, antes do salão, até uma pet shop e uma empresa de sopas caseiras ela abriu. Temos a mesma idade e muito em comum, não tenho dúvida na força da nossa amizade.
Meus pensamentos nostalgicos são interrompidos pelo celular.
-Alô?
-To loucaaaaaaaaa. - É, é a Bibi denovo.
-Que foi? Não me diz que tu chegou perto do fogão, deu uma reação com o álcool que ainda bomba nesse corpinho e meu apartamento pegou fogo? Ai meu Deus!
-Muito pior.
-Oque pode ser pior que isso? Não me diz que foi o Backhan...
-Praticamente amiga!
-Oque? Ele ainda ta ligando aí pra casa?! Já disse, não quero nada com esse cara!
-Eu to falando sério Sam...
-Tá fala, hehehe.
-Estava me aproveitando dos teus produtos da Lancome até alguém bater na porta, achei que era a Shirlei... hey, não é o dia dela limpar? Alguém vomitou no teu tapete da Princesa Daiana.
-Esse alguém se chama Bibiana!
-Eu não vomito, bem.
-Que tu lembre né! Dá um jeito nisso aí!
-Espera, nada pode ser mais importante que o que estou te contando!
-Então não enrrola. Preciso ligar para alguns clientes.
-Bom, na hora não lembrei da existência do olho mágico, abri a porta com a cara cheia de creme, vestindo o teu pijama furado...
-Hahaha. Adoroooo.
-Pois não devia, ele está implorando pra ser doado aos pobres!
-Tá! Para! Quem era?
-Ah sim! Uma escultura viva! Um homem lindo, loiro, de olhos claros, por alguns segundos me senti dentro do comercial de creme de barbear, mas logo acordei quando vi a cara que ele fez ao ver teu creme no meu rosto.
-Hahahahahaha. Mas quem era? Como assim?
-É o vizinho novo do 703, estava a procura da Samantha Filomena. Hahahaha
-Cala Boca! Minha procura?
-É amiga, o carteiro largou tua correspondência na caixinha dele. O bom samaritano resolveu devolver pessoalmente, pra ti ter noção cheguei a fantasiar ele de roupinha erótica do sedex. Hahahaha.
-Droga! Nunca vamos casar e ser felizes.
-Por que? Tu nem viu ele ainda...
-Ele sabe meu segundo nome!
-Hahahahaha. Para Sam! Vem logo pra casa vamos fazer uma torta de bolacha de boas vindas pro gatão.
-Tu ri né! Pelo menos ele não sabe meu apelido de infância.
-Até mais pererequinha! Hahahaha.
-Ai te odeio!
Hmmm, vizinho novo, bonito, atencioso e gentil? Ele deve ter errado de condomínio. Preciso me socializar, talvez ele seja 'o enviado' , afinal, não é todo dia que alguém se muda pra cima da tua cabeça, ainda mais um deus grego como a Bibi descreveu. Desde que moro no Jardim das Violetas minha vizinha de cima foi uma senhora, a legítima: velha dos gatos. Nunca encomodou, não andava de salto na minha cabeça e dormia cedo, além de muito simpática, me sedeu o box dela no estacionamento, onde a Bibi e minhas outras amigas guardam, ou melhor, guardavam seu carros. Há uns 2 meses ela se mudou para casa de um dos filhos, nem sabia que o 703 já havia sido alugado. Enfim, não vejo a hora de conhecer meu novo vizinho.

Depois do trabalho encontrei a Bibi no shopping, jantamos, compramos calcinha, e assistimos um filme romantico daqueles que te faz pensar 'isso nunca vai acontecer comigo'.
Na saída, vejo praticamente um cão chupando manga: Roberto, saindo da mesma sessão que eu -incrivelmente desacompanhado de uma de suas Pamela Anderson. Nesse momento tentei imaginar na cara da Bibi o rosto do meu vizinho gato, seria um orgasmo de vingança, o fim das piadianhas do xerox. Ai como é difícil ser eu.

UM

-Nunca mais vou beber na vida!
Foi a primeira coisa que me passou pela cabeça quando acordei na quinta feira, ainda deitada na cama lembrava da noite anterior, honestamente, não sei se dou risada ou choro, talvez deva pensar em procurar um profissional da área médica: gato e sedutor com uma caixinha de remédios para aminésia álcoolica na mão, no estilo 'tótei de farmácia erótica', adoro.
-ai minha cabeça! Para-o-mundo-que-eu-quero-descer!
E o meu apartamento - que fica em um bairro calmo e pacífico da cidade, giarava 360 graus no meu caminho até o banheiro.
Bibi era um cadáver no sofá da sala, como ela foi parar lá? não lembro, nem ela. Uma redonda e amigável marca de vomito carimbou meu tapete 'igual o da Princesa Daiana' que comprei em minha viajem a Europa - a trabalho, claro.
A senhorita cadáver é Bibiana, minha melhor amiga, recentemente se tornou proprietária de um salão de beleza, nos conhecemos na quarta série, quando brincava-mos de Barbie na escola.
Sou Samanta F. Silva Heen, mais conhecida como Sam, ou mesmo perereca - para os mais intimos. Sou representante estadual de um empresa que importa cosméticos, tenho 24 anos e uma falta de sorte considerável quando se trata de... bem, qualquer coisa!